1. |
Projeção
04:02
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Áspero e macio, o toque na areia
As mãos revelam-se molhadas
No domingo em que sangrei nas conchas que colheste
No tempo em que a praia me mentiu
Transformei as ondas na areia, na autoestrada
E pensei no que me tinhas dito
E pensei no que lhes tinhas dito
E pensei no que me tinhas dito
Os olhos pequenos, a garganta fechada
O cabelo muito branco e a cara avermelhada
No café da torrada e chá, vi uma gabardine preta
Que vinha de lá para cá
No dia a seguir caí no sofá
O ó em caracol, gráfico e infantil
Fazia-nos rir e recordar
A regra de ouro, projetada na parede
Tinha algo a revelar
Alguém nos queria ensinar
Queriam-nos fazer olhar
Prás imagens que iam projetar
Prás imagens, prás memórias
Prás imagens, prás memórias
Prás imagens, prás memórias
Prás imagens, prás memórias
Queriam-nos fazer olhar
Prás imagens que iam projetar
Prás imagens que iam projetar
Deixa a memória respirar
Deixa a memória respirar
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2. |
Ir (Vai e Vem)
04:52
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Há um pescador meio afundado
Metade do corpo no mar
Na praia há uma pena de gaivota
Que se liberta pra voar
Que se liberta pra voar
Há sempre uma onda que estala
Ao mesmo tempo do que eu
Há sempre uma boca aberta
Que põe em causa o que é meu
Que põe em causa o que é meu
Tento ler no carro e misturo as frases
Vou ter de dar um nome a alguém
Acordo ao teu lado cedo
Vou ter de dar um nome a alguém
Vou ter de dar um nome a alguém
Mãe vem pra casa, pai vem pra casa
Vamos lá todos jantar
Vamos todos, todos para casa
Há um pescador meio afundado
Metade do corpo no mar
Na praia há uma pena de gaivota
Que se liberta pra voar
Há sempre uma onda que estala
Ao mesmo tempo do que eu
Há sempre uma boca aberta
Que põe em causa o que é meu
Tento ler no carro e misturo as frases
Vou ter de dar um nome a alguém
Acordo ao teu lado cedo
Vou ter de dar um nome a alguém
E os homens duros comem mousse
Doce da casa e licor
E depois voltam para o trabalho
Onde se perde o sabor
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3. |
Amarga Balada
08:37
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Numa casa numa rua
Uma família vive há anos
Diz que eles vivem em paz
E que não têm planos
Nessa família há um rapaz
Ouve os amigos a falar
Do futuro e diz que sim
Sai-lhe um suspiro e um enfim
No outro lado da rua
Vive uma miúda fina
Eles namoraram e acabaram
As coisas que o verão ensina
Conhece a zona de ninguém
A internet e a casa dela
O fumo vai invadindo a rua
E a pele dele é amarela
Um dia acordou a tossir
E abriu a persiana
Viu chaminés a poluir
A respirar toda a semana
O papá e a mamã
Faziam a reciclagem
Depois entravam nos seus carros
Com os miúdos na bagagem
E depois iam de férias
O avião quase a pro bono
As asas da liberdade
De mãos dadas com o carbono
E quando voltavam das férias
E para o computador
Votavam nos seus partidos
Num discurso amador
Votavam na reciclagem
Votavam no crescimento
Votavam só a seu credor
Num discurso amador
Havia um velho na rua
Um maluco a dizer
"Já não vejo agricultura
E há espécies a morrer"
O rapaz passou por ele
E ouviu com atenção
Os incêndios e as cheias
Davam lhe toda a razão
Os incêndios e as cheias
Davam lhe toda a razão
No caminho para a loja
Que telemóvel comprar
O rapaz equacionava
Ou se preferia respirar
Um dia a família acordou
Sem água e aquecimento
Sem aviões e sem gasóleo
Sem petróleo e sem sustento
O velho gritava agora
"Estão sujas as minhas vestes
Mas eu estou limpo por dentro
Durmo com os corpos celestes"
Mas eu estou limpo por dentro
Vivo com os corpos celestes
Querem que sintamos culpa
De fazer parte de um sistema
Vamos morrer em seu nome
Querem que sintamos culpa
De fazer parte de um sistema
Vamos morrer em seu nome
Querem que sintamos culpa
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4. |
A Lua e os Lobos
03:48
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Numa gruta dois lobos dormem
À noite ao luar
E há sempre um que dorme
E outro acorda pra passear
E não é a lua cheia
Que escolhe qual vai despertar
Se o lobo pra temer
Se o lobo pra cuidar
Encontrei te na clareira
Há noite ao luar
Tinhas feições de lobo
E uma história pra contar
E assim o fizeste
E eu fiquei a perceber
Que com um lobo à frente
Podia adormecer
Que com um lobo à frente
Já podia adormecer
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5. |
Gato Sorridente
04:27
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Quem me dera ser aquele
O gato voador e brincalhão
Deixar o meu sorriso
E desaparecer na escuridão
Desejo um bom dia
Desejo boa noite ao meu amor
E dou por mim a abraçá-la
Junto ao parque da cidade no calor
Sinto o corpo em suspensão
À espera que os teus braços o amparem
Só me podes salvar tu
Os outros eu nem quero que reparem
Os pedaços de ti que ficaram
Ocupam tanto espaço tanto tempo
Os estilhaços de ti
Espalhados nos meus olhos
Ainda vivem
São tão poucos
Ainda vivem
Tão pequenos
Ainda vivem
Tão bonitos
Ainda vivem
Ainda vivem
Estou contigo em silêncio
Faço uma marca na parede branca
Estou contigo à tua espera
Eu não estava preparado prá mudança
Quem me dera ser aquele
O gato voador e brincalhão
Deixar um rasto de sorrisos
E desaparecer na escuridão
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6. |
A Escolha
04:18
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Eu vivo num palácio branco
Enterrado num vale
Rodeado de eucaliptos
Para que a terra não resvale
E vive um rei no palácio
Mais a corte real
E os portões estão trancados
Criou se um espaço ideal
E numa manhã de inverno
Juntamo-nos na praça
As notícias cantava o bardo
Enquanto o rei erguia a taça
"Voltemos ao baile e às máscaras"
Disse o rei e acenderam-se velas
"Dancemos nesta bela luz
A escuridão cai nas favelas"
Disse o rei "ninguém tem de saber
Que os queremos controlar
Virar o povo contra o povo
Dividir pra reinar
Pô-los todos a gritar, a gritar"
Gritei "deixem me sair
Ou deixem nos entrar
Os eucaliptos vão cair
Pelos portões vão entrar!"
Gritei "deixem me sair
Ou deixem nos entrar
Os eucaliptos vão cair
Outras espécies vão plantar
Os eucaliptos vão cair
Pelos portões vão entrar!"
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7. |
Voltar (Vai e Vem)
03:08
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Eu gostava de te ver
Quando não está lá ninguém
Quando olhas à janela
Ou para o retrato de alguém
Quanto tempo estás deitada
Quanto tempo estás sozinha
Quantas horas em chamada
Quantas horas na cozinha
Posso dar-te uma chamada?
Passar pela tua esquina?
Saber que estás à minha espera
E que a amizade é genuína
Eu gostava de me ver
A dormir nos teus lençóis
Protegido nos teus braços
Nos teus longos caracóis
Nos teus longos caracóis
Nos teus longos caracóis
Nos teus longos caracóis
Nos teus caracóis
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8. |
Fui Enterrar o Coração
07:49
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O que eu vejo é a tua cara, o que eu sinto é a tua pele
Ah nesta noite tão clara o céu é feito de papel
Digam-lhe que fui embora, que paguei e pus-me a andar
Por agora vou-me embora, qualquer dia hei-de voltar
Qualquer pessoa que por aqui passe, e que olhar com atenção
Vai ver qual foi o desenlace, se conseguir olhar pró chão
É tão humilde esta minha voz, a minha cara tão sincera
Não sei bem o que viste em mim, de toda a gente nesta esfera
A tua roupa sempre foi tão limpa e eu faço parte da ralé
Eu sujei-te a noite toda, como uma mancha de café
Mas tu limpaste muito bem a nódoa, mudaste rápido a camisa
Agora só resta algum cheiro, ele é tão leve quanto a brisa
Os teus sinais de apreço, acendem o meu coração
Agora passou tanto tempo, tenho a tua atenção
São estas águas paradas, onde dá pra flutuar
Prometo que não me afundo, e que aprendo a nadar
Encontrei o meu consolo, a ver a vida passar
Tento falar com os meus amigos e tento não me chatear
Estas memórias que me atormentam, vão me prendendo à minha cama
Que me dão tanto aconchego, mas que me deixam na lama
Que me fazem sorrir, ao ver-te ainda à minha frente
E que me fazem trair, o viver do meu presente
Viver à beira da autoestrada, ouvir os camiões passar
Deve ser uma bela merda, ouvir os camiões passar
Levava-te para todo o lado, no bolso qual amuleto
No fim da noite eu já beijava, as tuas mãos o teu esqueleto
Sempre que abro o coração, sinto-te a dar um passo atrás
Espera aí já vais tão longe, posso deixar-te já em paz
Vou enterrar o coração, tentar viver o dia-a-dia,
Olhar pró céu, sentir o vento, a alegria fugidia
Vou enterrar, vou enterrar, vou enterrar o dia-a-dia
Olhar pró céu sentir o vento, a alegria fugidia
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9. |
Sombras e Luzes
02:37
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Lágrimas matinais
Escorrem no tecido do lençol
Por debaixo do céu branco
Noites carnais
Iluminadas pelo sol
Cobertas pela brisa da manhã
Sombras e luzes do amor
Sombras e luzes do amor
Sombras e luzes do amor
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10. |
Uma Aventura
03:59
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O rapaz desceu do quarto
Desceu as escadas
Agarrou o corrimão
Na mala tinha uma pequena lanterna
Um par de botas
E um pedaço de pão
Um par de botas
E um pedaço de pão
Deixara o quarto sem saber bem porquê
Deixara o quarto e deixara o seu irmão
No outro dia tinha tomado a decisão
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Hugo Costa Lisbon, Portugal
Hugo Costa é um cantautor de Lisboa, Portugal.
Hugo Costa is a singer-songwriter from Lisbon.
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